segunda-feira, 5 de maio de 2008

É bem mais fácil do que parece.




Superintendente de RH do Banco Real mostra caminhos práticos para a inclusão.

Na entrada no novo milênio, raras empresas ainda não entenderam a importância de se manter um diálogo aberto com a sociedade. Que o discurso de aproximação com os cidadãos comuns e o estreitamento de laços com a comunidade, consumidores e parceiros deve fazer parte dos valores das companhias comprometidas com a responsabilidade social, isto é bem sabido. A parte difícil está em tornar este discurso realidade do dia a dia e transformar ideais em ações práticas que tragam benefícios para todos, inclusive a própria empresa.
Acolher e apoiar a diversidade é uma destas questões complexas que está exigindo um trabalho dobrado para as companhias por duas razões bem distintas : a primeira, é a preocupação com a legislação que exige a contratação de uma porcentagem de funcionários com deficiência para o cumprimento de cotas estabelecidas. Na tentativa de uma solução rápida apenas para se “livrar do problema”, algumas empresas mal orientadas apenas fazem isso mesmo: empregam, e depois não sabem o que fazer com o funcionário. Não criam condições de trabalho e caminham na direção contrária do verdadeiro sentido desta iniciativa que deveria ser a inclusão social e a promoção da diversidade nos ambientes de trabalho. A segunda preocupação, para quem quer fazer a coisa bem feita é: como ?
O Banco Real abriu este diálogo em 2001, época em que contava com apenas 42 pessoas portadoras de algum tipo de deficiência. Em 2008, este número subiu para surpreendentes 1300 funcionários, mais de 90% da meta e em algumas unidades em vários estados já se atingiu 100%. A motivação para chegar a estes índices não foi apenas atender à questão mandatória. “Bem antes disso - conta a superintendente de recursos humanos do banco, Maria Cristina Carvalho - já havia uma preocupação em equilibrar as equipes com as presenças de indivíduos de diversas etnias, gêneros, culturas e idéias, idades, trajetórias, conectando assim com o posicionamento de valores do próprio banco que sempre buscou respeito e integridade como valores fundamentais dentro da organização”.
O verdadeiro trabalho então não era contratar estas pessoas e sim estabelecer um processo de comunicação e sensibilização do público interno, os funcionários, que precisaram aprender a mudar de atitude e entender como funciona o outro lado de quem esteve sempre vulnerável e em desvantagem e agora compartilhava o ambiente de trabalho em condições de igualdade.
E isto não poderia ser feito apenas com a introdução de cartilhas que até atenderam algumas noções de posturas e tratamentos, inclusive para os clientes externos
O que se pode sugerir para empresas que estejam nesta busca pela inclusão, é que este é um desafio que só se conquista e supera, num primeiro momento, com ações afirmativas envolvendo todos os processos da instituição, sejam com o público , fornecedores, interação dos núcleos internos:

- Com certeza a educação gera um resultado permanente e de mais longo prazo, veja por exemplo os adolescentes e sua preocupação com o meio ambiente como nunca se viu nas gerações anteriores de forma tão disseminada.

- Palestras também são um recurso importante. Mas o contato direto entre membros de equipes, por exemplo, gestor e estagiário, estimula o aprendizado para ambos desenvolvendo inovação e criatividade, embora sejam resultados mais consistentes no longo prazo.

- Adaptações são necessárias, o que deve ser entendido como conciliação e apoio para escolhas e interesses do usuário e da empresa, e não apenas imposições de cima para baixo ou mero cumprimento de regras.

- As discussões para sugestões e idéias sobre os assuntos de diversidade, acessibilidade, outros. não precisam ficar restritas aos envolvidos diretamente. Há pessoas interessadas que podem trazer contribuições para a área. Sugestões podem e devem ser acolhidas também junto ao público externo.

- Flexibilizar exigências na hora da contratação amplia o acesso

- Facilitar meios para a formação de potenciais talentos.

- Buscá-los ainda em sua fase de início de carreira, quando a universidade e até o campo de futura atuação profissional ainda não foi escolhido pode ser mais interessante do que tentar captar alguém já pronto. Estes últimos são raros, caros, disputados no mercado e nem sempre correspondem ao perfil desejável. O Banco Real disponibiliza bolsas de estudo para estudantes estagiários com ou sem deficiência.

- Criar linhas de crédito especiais para a aquisição de equipamento ou financiamento de serviços para melhorar a mobilidade de pessoas que precisam de carros adaptados, ou nos caso de dificuldades de visão ou outras, uma melhor interação com as novas tecnologias.

Não são medidas impossíveis, interesse, atenção, olhar ao redor, sensibilidade, são as melhores regras para aprender a fazer e até, às vezes, não fazer. Boa parte das pessoas ainda precisa aprender a conviver com a diversidade. Muitas desconhecem até mesmo como deve se comportar na presença de alguém com deficiência. E a solução é bem mais simples do que parece.
“Nessas horas”, lembra Maria Cristina, “sempre me lembro das palavras de Thays Martinez, atualmente presidente do IRIS e que já trabalhou no Banco Real: “Se não sabe, pergunte” . E nós aprendemos muito com ela e com o Bóris.

abril2008

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